segunda-feira, 27 de maio de 2019

Histórias: Thomson Road Steamer no Brasil - 2ª Parte

*** Todo o texto e todas as imagens dessa postagem são de autoria do sr. Jonildo da Silva Bacelar, e vieram da página www.cidade-salvador.com/urbanismo/road-steamers.htm

O Thomson road steamer no Brasil

O Brasil importou pelo menos cinco ou seis desses veículos, em 1871. Um ou dois em Salvador, dois no Ceará e dois em Belém do Pará. O de Salvador foi o primeiro e a estreia foi registrada no Diário de Notícias, Rio de Janeiro, de 4 de maio de 1871, com o seguinte texto:

 “Em diversas ruas da Bahia foi experimentada pela primeira vez uma das locomotivas que teem de puxar os wagons do systema «Thompson road steamer», que pretende introduzir na capital o dr. Francisco Antonio Pereira Rocha. A experiencia parece ter dado resultados satisfactorios.”

O automóvel, importado pelo jurista baiano Francisco Antonio Pereira Rocha, chegou, em Salvador, no final de abril de 1871, no vapor inglês Tycho Brahe, como indicado em reportagem do Correio da Bahia, na época. Veio acompanhado do jovem mecânico escocês George Johnston (1855-1945), que se tornou posteriormente um dos mais importantes engenheiros britânicos, responsável, por exemplo, pelo projeto e construção do Mo-Car, em 1895, o primeiro automóvel com motor de combustão interna, construído na Escócia. 

De acordo com as notícias da época e referências posteriores, tudo indica que foi o próprio Rocha que dirigiu o veículo nos primeiros testes nas ruas da Cidade, tornando-se assim, o primeiro motorista do Brasil. Segundo Sacramento Blake (1827-1903), por exemplo, Rocha fez diversas evoluções com sua locomotiva, em 12 de maio de 1871 (o primeiro teste foi cerca de 3 de maio). 

A razão da importação do veículo era comercial. O Decreto Imperial N.4588, de 31 de agosto de 1870, concedeu o privilégio, por 15 anos, a Francisco Antonio Pereira Rocha para a introdução, na Província da Bahia, das máquinas de tração, veículos de transporte e arados do sistema de R. W. Thompson's Patent Road Steamers (escreve-se Thomson, sem p). Tratava-se da concessão de um novo sistema de transporte no Brasil. O Thomson road steamer era escocês e estreou, em Paris, no início daquele ano.

O pioneirismo da Bahia é atestado pela Revista Agrícola do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, publicada em junho de 1871 (N.8). Os editores da revista vinham acompanhando o desenvolvimento desse tipo de veículo, no exterior, desde 1870, conforme reportagem na edição de abril (N.3) com o título Charruas a Vapor. A mesma revista relata a experiência feita com arados movidos pela máquina Thomson, realizada na Barra, em 11 de junho de 1871, e escreve: "Foi satisfactoria a experiencia. A introducção desse efficaz melhoramento da industria agricola no Brasil é urgentissima" e complementa: "Meio poderoso de substituir os braços na lavoura dos campos, esse melhoramento deve ser aceito na época em que se trata no Brasil de abolir a escravatura nacional". Em carta ao Diário da Bahia, Rocha relata que fez a primeira experiência com o arado em 11 de maio. 

É provável que Pereira Rocha tenha conhecido as invenções de Thomson muito antes da aquisição de seu ônibus a vapor. Thomson também patenteou o princípio da pena d'água para a venda de água em chafarizes, em 1849, e apresentou seu invento na Grande Exposição de Londres, de 1851. O Doutor Rocha, como era conhecido, viajou à Europa, em meados dos anos 1850, para a aquisição dos chafarizes do Sistema do Queimado, que também vendia água pelo sistema de penas d'água. Um dos chafarizes adquiridos, o da Praça do Comércio, também foi exibido na mesma Exposição de Londres. 

O reverendo J.F.C. Schneider, da Igreja Presbiteriana da Bahia, em seu relatório publicado no The Foreign Missionary of the Presbyterian Church (Nova York, agosto de 1871), relatou que um certo Sur. Rocha foi à Inglaterra para um dos "Thompson's Patent Road Steamers". Testou o veículo com grande sucesso, incluindo a subida de uma ladeira íngreme, com grande facilidade. Schneider observou que o veículo estava destinado ao transporte regular de mercadorias e de passageiros entre um ponto perto do centro da Cidade Alta até uma das extremidades da Cidade. Possivelmente, o Rio Vermelho, pois Manoel Querino (1851-1923) relatou que o veículo fez uma excursão àquele bairro.

O automóvel que chegou, em Salvador, era provavelmente de um modelo igual ou parecido com o que estreou em Edimburgo, com o omnibus New Favorite (ilustração no topo da página). Atende à descrição de Querino, que informou que o veículo possuía uma quinta roda, na frente, exclusivamente destinada à direção do veículo. Note, na primeira ilustração, que o triciclo de tração e o ônibus eram bem integrados e, de certa forma, eram um único veículo, como se o conjunto estivesse sobre o mesmo chassi. Isso era necessário para evitar balanços no ônibus sobre apenas duas rodas.

Através de Querino, que conhecia Rocha, temos interessantes relatos sobre esse veículo, no capítulo O Automobilismo de seu livro A Bahia de Outrora (1916). Querino relatou que o veículo foi popularmente apelidado de "borracha do Rocha" e que fechou-se apostas contra a subida da Ladeira da Conceição da Praia. Mas o veículos subiu a Ladeira e percorreu diversas ruas sem o menor acidente. O carro também participou do desfile de Dois de Julho de 1871, armado em transporte de guerra. 

Querino continuou escrevendo que os baianos improvisaram uma quadra, colocando, em desafio, o auto e o elevador hidráulico: Havemos de ver dos dois O que aperta ou afroxa: Do Lacerda o "parafuso", Ou a borracha do Rocha. Sabemos que borracha e parafusos apertam e afrouxam, mas, para entender o desafio, é preciso conhecer o contexto dos transportes urbanos da Cidade, na época.

Desde o século 16, existiram guindastes para transportar cargas entre as partes baixa e alta da Cidade. As pessoas subiam ladeira andando, em montarias ou carregadas em liteiras. Em 1859, o Imperador Dom Pedro II preferiu subir andando a Ladeira da Conceição da Praia, acompanhado da Imperatriz. Salvador foi uma das primeiras cidades do Brasil a dispor de transporte coletivo. Em meados do século 19, circulavam as gôndolas, de tração animal, que depois passaram a circular sobre trilhos e que se tornaram os bondes. No final dos anos 1860, também existiram pequenas locomotivas urbanas que atendiam aos subúrbios e que alguns autores chamam de maxambombas, mas não parece que esse nome foi usado em Salvador.

Em 1870, uma das empresas de transporte urbano pertencia aos irmãos Lacerda, que possuíam linhas na Cidade Baixa e na Cidade Alta. Em 1869, começaram a construir o audacioso Elevador (atual Elevador Lacerda), um sistema de pioneirismo mundial, na época, para ligar as linhas de transporte das partes baixa e alta, concluído em 1873. O automóvel do Rocha podia subir a Ladeira da Conceição da Praia, interligando os dois andares da Cidade. Seria, assim, esse o sentido da quadra referida por Querino.

Na Bahia houve um segundo projeto para um sistema Thomson road steamer previsto para Alagoinhas, conforme indica o Relatório de 17 de outubro de 1871, do 4º vice-presidente da Província da Bahia (presidente interino), Francisco José da Rocha, que faz uma concessão a José Ferreira de Menezes a fim de estabelecer uma ou mais linhas de transporte a vapor, pelo sistema Thomson. O jornal A Reforma, do Rio de Janeiro, de 24 de novembro de 1871, com referência ao Diário da Bahia, escreveu "O Sr. Dr. Francisco Antonio Pereira Rocha destina as machinas Thomson à estrada de Alagoinhas. Na época, Alagoinha já era atendida por uma ferrovia que partia de Salvador e sua construção continuou para Sergipe e Juazeiro. Não se tem notícia de que os Thomson road steamers chegaram lá.

Note o caso do plural "as machinas Thomson" referido pelo Diário da Bahia. Seriam provavelmente duas, pois não se pode assumir um serviço regular de transporte com apenas uma máquina. Também, o texto do Diário de Notícias de 4 de maio de 1871 (mais acima) dá a entender que seriam mais de uma. 

Querino informa que o automóvel do Rocha foi levado depois para o Rio Grande do Sul. Rocha, junto com Feliciano Joaquim de Bormann, tinha um contrato com o governo daquela Província para a construção de uma estrada, segundo a lei provincial n. 774 de 4 de maio de 1871. A estrada funcionaria com o sistema Thomson road steamer, ligando a freguesia de Santo Amaro à vila de Santa Maria. Rocha recebeu isenção de impostos para importar equipamentos da Europa. O contrato foi também publicado no Correio da Bahia, de 13 de junho de 1872. 

Entretanto, não se tem notícia do que aconteceu com o automóvel do Rocha, depois que ele partiu para o Rio Grande do Sul, mas o advogado baiano estava em Salvador, poucos anos depois, como candidato à Câmara Municipal. Os Thomson road steamers também funcionaram em Belém do Pará. Em setembro de 1871, eles inauguraram um trajeto entre o "Ver-o-peso e o pitoresco arrabalde de S. João", com dois carros com "cento e tantos passageiros", como publicado no jornal O Liberal do Pará, de 26 de setembro de 1871. No dia 28 seguinte, o jornal informava que o sistema funcionava com regularidade.

No Ceará, também funcionaram dois veículos do sistema Thomson, como informou o cônsul dos Estados Unidos, em Pernambuco, em relatório datado de 28 de outubro de 1871, publicado no Commercial Relations of the United States with Foreign Countries, de 1872. Uma notícia do Correio Paulistano, de 5 de setembro de 1871, sobre o Ceará, informou que o Sr. Morgan fez experiência no dia 5 do corrente (agosto) com a machina Thompson aplicada-a ao transporte de pedras para calçamento e obteve um resultado magnífico. A concessão para o sistema Thomson do Ceará foi datada sete dias antes da concessão para a Bahia, pelo Decreto Imperial N.4580, de 24 de agosto de 1870. Foi requerida pelos engenheiros Paulo José de Oliveira e Joaquim Pires Carneiro Monteiro. Essa concessão valia também para as províncias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. O requerimento data de 14 de maio de 1870 e recebeu parecer favorável de uma comissão do Instituto Polytechnico Brasileiro, do Rio de Janeiro. 

Os primeiros projetos para uso do Thomson road steamer, no Brasil, foram feitos provavelmente no primeiro semestre de 1870, incluindo os casos da Bahia e do Ceará. Talvez após a estreia do sistema em Paris, que, na época, era a cidade de maior prestígio no mundo. Outro projeto para uso do sistema Thomson, ou similar, foi feito pelo engenheiro francês José Gaune, para o Maranhão, ligando Caxias a São José das Cajazeiras, como indicado no Diccionario Historico-Geographico da Provincia do Maranhão, de César Augusto Marques, publicado em 1870. O projeto de Gaune chegou a ser aprovado por lei provincial de 14 de julho de 1870. 

Em outubro do mesmo ano, o engenheiro inglês Edmund Compton foi contratado para estudar o traçado da estrada para um sistema Thomson road steamer. Mas não se tem notícia de que os road steamers tenham chegado ao Maranhão. Em 29 de agosto de 1872, o jornal A Nação, do Rio de Janeiro, noticiou que B. Caymari e Augusto Fomm receberam o privilégio para empregar as machinas de Thompson na serra de Petrópolis e na montanha da Tijuca.

Nos casos do Maranhão e do Rio Grande do Sul, os documentos e textos da época demonstram que os Thomson road steamers, seriam usados para interligar localidades, como uma opção de baixo custo, em lugar das ferrovias, por falta de recursos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o vice-presidente da Província recusou uma solicitação do Major João Coelho Barreto para uma linha de comunicação por meio das máquinas Thomson, entre S. Leopoldo e Novo Mundo, alegando o estado financeiro da Província (de acordo com o Relatório do vice-presidente, de 12 de setembro de 1871), embora a linha tivesse sido aprovada pela Lei n. 775 de 24 de maio de 1870.

Referências ao Thomson road steamer, no Brasil, foram encontradas apenas entre 1870, quando surgiram as primeiras licenças e projetos, até 1873. Nenhuma delas atribuiu o nome maxambomba ao veículo.

Este era o Thomson road steamer, na versão ônibus, composto por uma máquina de tração a vapor e o omnibus "New Favorite", para o transporte de passageiros. As cinco rodas eram revestidas de borracha sólida. Este foi o ônibus de Thomson que estreou, em Edimburgo, ligando o centro da cidade ao distrito de Leith, em ilustração publicada no jornal britânico The Graphic, de 11 de junho de 1870. O jornal destacou as rodas de borracha e observou que o veículo podia subir ladeiras íngremes. Eram grandes avanços para a época. O ônibus double-decker tinha capacidade para transportar 64 passageiros: 20 confortavelmente no compartimento de baixo e 44 na parte de cima.

Embaixo, um modelo do Thomson road steamer, com teto no veículo de tração (modelo Chenab), projetado para uso na Índia, em 1870, com a participação do engenheiro inglês Rookes Evelyn Bell Crompton. Usava madeira, como combustível, em lugar de carvão. O primeiro Chenab foi construído, sob licença, em Ipswich, Inglaterra, em maio de 1871.

O Thomson road steamer para o transporte de carga, com vagões de carvão, em março de 1870.

Não foi esse. Alguns autores indicam esse conjunto, acima, como sendo o veículo do Rocha. Não foi. Querino relatou que o automóvel que chegou em Salvador tinha cinco rodas, uma na frente para direção, mas esse acima tem oito. Note que o veículo de tração é do mesmo modelo fabricado em Thetford, um vilarejo de Norfolk (ilustração anterior acima). O veículo do Rocha era mais compacto, do mesmo modelo ou muito similar ao que estreou em Edimburgo (primeira figura no topo da página). Todo o conjunto do veículo do Rocha estava provavelmente sobre o mesmo chassi, o que era necessário para dar estabilidade ao ônibus sobre apenas duas rodas, não sendo, assim, um reboque, como o da figura acima.

Este é um trecho da Cidade do Salvador, em 1873, ano da inauguração do "Parafuso" (Elevador Lacerda). A Ladeira da Conceição da Praia foi construída, em 1549, por Thomé de Souza, a primeira conexão entre as partes baixa e alta da Cidade planejada pelo decano dos arquitetos do Brasil: Luiz Dias. Alguns anos depois foi construída a Ladeira da Montanha, de inclinação mais suave. Por volta de 3 de maio de 1871, o carro do Rocha tornou-se o primeiro automóvel urbano a rodar com sucesso no Brasil e ele, o primeiro motorista. O carro subiu a Ladeira da Conceição da Praia, fez manobra no Largo do Theatro (atual Praça Castro Alves), subiu a Rua Direita do Palácio (atual Rua Chile) e chegou, com sucesso, na Praça do Palácio (atual Praça Thomé de Souza), a mesma que dá acesso ao Elevador.

Histórias: Thomson Road Steamer no Brasil - 1ª Parte

*** Todo o texto e todas as imagens dessa postagem são de autoria do sr. Jonildo da Silva Bacelar, e vieram da página www.cidade-salvador.com/urbanismo/road-steamers.htm

História dos Thomson Road Steamers
* Por Jonildo Bacelar, em 2015.

Este Artigo, publicado originalmente em março de 2015, no antigo site Buscatematica.net do Guia Geográfico, apresenta pela primeira vez ilustrações e características reais do primeiro automóvel a rodar no Brasil. Antes, a literatura especializada quase nada adicionou aos folclóricos relatos de Manoel Querino (1851-1923) sobre esse veículo pioneiro no Brasil.

R. W. Thomson concebeu e construiu os primeiros veículos Thomson Road Steamer. É também considerado o inventor do pneu de borracha.

Os Thomson road steamers foram os primeiros veículos de autopropulsão a rodarem com indiscutível sucesso em vias públicas urbanas. O Brasil importou pelo menos cinco ou seis desses veículos. O primeiro estreou em Salvador, por volta de 3 de maio de 1871. Era um veículo como o do modelo da ilustração ao lado ou similar. Foi adquirido pelo empresário e renomado jurista baiano Francisco Antonio Pereira Rocha, um dos empresários do Sistema do Queimado, o pioneiro sistema de água encanada no Brasil, inaugurado em 1856. Outros Thomson road steamers rodaram no Ceará e em Belém do Pará. Usavam rodas com borracha, uma tecnologia inovadora, na época.

O desenvolvimento do Thomson road steamer

Os road steamers (máquinas a vapor para as ruas, em tradução livre) eram veículos voltados para o transporte urbano, enquanto as carruagens a vapor e as locomotivas sobre trilhos eram mais usadas para viagens entre localidades. Existiam desde a primeira metade do século 19, mas tinham problemas para subir ladeiras e suas rodas, com o grande peso do veículo, danificavam as ruas e trepidavam muito. Variações desses veículos deram origem aos ônibus modernos.

O inventor escocês Robert William Thomson (1822-1873) foi responsável por importantes contribuições em engenharia. Ele é, por exemplo, o inventor do pneu de borracha. Sua patente n. 10990 para o aerial wheel, como chamado por Thomson, data de 10 de dezembro de 1845, décadas antes da reinvenção de John Dunlop.

Em de 1867, Thomson patenteou seu processo de revestimento de rodas com tiras de borracha sólida vulcanizada. Projetou um eficiente motor a vapor de 6 hp, que foi fabricado pela empresa T.M. Tennant & Co., localizada em Leith, um distrito de Edimburgo, na Escócia. Em novembro de 1867, Thomson montou seu primeiro road steamer, em sua própria oficina, também em Leith. As rodas eram revestidas com tiras de borracha sólida de 5 polegadas de espessura e 12 polegadas de largura. 

Thomson fez testes com os equipamentos e passou a fabricar outros a partir de meados de 1868 até 1870, quando seus road steamers passaram a ser fabricados, sob licença, pela T.M. Tennant & Co, que já fabricava os motores a vapor projetados por Thomson. 

Em 1868, reportagens sobre o veículo de Thomson saíram no Scientific American (7 de outubro), The Engineer, e outras publicações, sempre com avaliações altamente positivas. O jornal The Scotsman (22 de agosto) escreveu: 

"There can be no doubt this invention of the application of vulcanized india-rubber to the tires of road steamers forms the greatest step which has ever been made in the use of steam on common roads. It completely removes the two fatal difficulties which have hitherto barred the way to the use of traction engines, viz.: the mutual destruction of the traction engine and the roads. "

O road steamer de Thomson foi avaliado pelo professor Archer (The Engineer, 4 de setembro de 1868). Ele observou que, a primeira vista, achava que a borracha não era adequada para o peso do veículo. Constatou incrédulo, depois, que o veículo passava por cima de todo tipo de material sem qualquer dano à borracha e sem trepidação. Tratava-se de um teste em Leith, na Escócia, onde os veículos de Thomson foram fabricados até a época. Archer estimou o peso do road steamer em cerca de 4 ou 5 toneladas e ficou impressionado com o que viu. Continuou relatando que o road steamer acoplou um reboque com mais de 10 toneladas e subiu uma ladeira, com inclinação de 1 por 20, sem dificuldade. Archer notou que o veículo usava uma econômica caldeira vertical, parecida externamente com outras da época, mas completamente diferente, na parte interna, que a tornava bem mais eficiente. Em outro teste o road steamer puxou vagões carregados com carvão, com peso total do conjunto de mais de 40 toneladas, num percurso entre duas localidades, sem dificuldade. Archer concluiu que o veículo superou todas as suas expectativas, adicionando que as rodas com borracha não patinavam nem mesmo no gelo. 

O Departamento de Guerra Britânico reuniu, relatórios de 1869 a 1870, que examinaram o Mr. Thomson's "Road Steamer" para uso militar. Em um deles, de 8 de abril de 1870, o autor relata que, depois de ter investigado completamente esse road steamer, de ter visto ele puxar cargas consideradas impossíveis e de tê-lo testado sob condições das mais desvantajosas, concluiu que o problema de tração a vapor em ruas comuns estava completamente resolvido.

Por volta de 1870, o Thomson road steamer era vendido com duas opções de máquina a vapor. Uma com 8hp e outra com 12hp. O conjunto de cinco rodas, com a máquina de tração e o omnibus, desenvolvia velocidades entre 16 e 19 km/h (um homem normal corre a uma velocidade por volta de 30 km/h e anda a cerca de 5 km/h). O modelo Ravee, do Thomson road steamer, chegou a uma velocidade de 40 km/h, em um teste feito em 1871. Quando usados para o transporte de carga, eram mais lentos. 

O Thomson road steamer chegou, em Paris, no início de 1870, como indicado no The New York Coach-maker's Magazine, de março de 1870. Acoplava o Versailles omnibus, para 50 passageiros. Essa pequena locomotiva de tração a vapor, com rodas revestidas de borracha, foi uma grande inovação. A borracha aumentava o atrito com o solo, evitando deslizamentos, reduzia o barulho e a trepidação. Praticamente não eram afetadas por elementos ambientais como calor, umidade ou frio. 

Em agosto de 1869, Thomson demonstrou que sua máquina também podia ser usada como um trator para arar a terra. Em 1870, foi comercializado um modelo que acoplava um conjunto de oito pesados arados.

Entre 1870 e 1873, a demanda para o Thomson road steamer foi grande e a fábrica de Leith não conseguiu dar conta. Em 1870 e 1871, Thomson forneceu licenças para a fabricação de seu road steamer por outras empresas da Inglaterra e dos Estados Unidos.

O veículo de tração tinha nomes como Derwent, Chenab, Ravee, Enterprise, Advance e outros, de acordo com o fabricante e a versão. O ônibus teve nomes como New Favorite e Versailles. Uma fábrica licenciada, em Norfolk, Inglaterra, equipou seus Thomson road steamers com tradicionais caldeiras horizontais, para desgosto de Thomson, e com quatro rodas, em lugar de apenas três.

Douw D. Williamson foi o licenciado nos EUA. Cerca de 50 unidades do veículo foram fabricadas em Nova Jersey e na California. Muitos foram usados como arado, mas não tiveram grande sucesso em tal aplicação. 

Foi exportado para alguns países, como França, Itália, Índia, Sri Lanka, Turquia, Grécia, Rússia, Austrália, Canadá, Indonésia (Java), Estados Unidos e Brasil. Por volta de 1872, surgiram notícias de que a durabilidade das tiras de borracha era limitada e que os custos de reposição eram elevados. Mas a borracha veio para ficar e passou a ser usada também por outros fabricantes de veículos.

O inventor Robert William Thomson estava doente desde os anos 1860 e faleceu em 8 de março de 1873. Seus Thomson road steamer, modelos Ravee e Chenab, rodaram na Índia até por volta de 1880. Alguns ainda estavam em uso, em Edimburgo, nos anos 1920.

Aqui, o Thomson road steamer (Advance) construído, sob licença, em 1870, para uso militar, pela Robey and Co., de Lincoln, Inglaterra. Era uma máquina maior, com rodas de 6 pés de diâmetro e uma de 4 pés, na frente, para direção.

Aqui, a máquina de Thomson fabricada nos Estados Unidos, em 1871, mais usada no trabalho rural, principalmente como arado. Era eficiente para arar a terra seca, mas as tiras de borracha tinham problemas na terra fofa molhada.

Este é um road steamer, fabricado pela Charles Burrell and Sons, em Norfolk, Inglaterra, sob licença de Thomson, em 1871, mas bastante modificado. Tinha duas rodas na frente (em lugar de apenas uma), interligadas por um pequeno eixo. Usava as tradicionais caldeiras horizontais, em lugar da vertical, projetada por Thomson.

Acima, uma ilustração (The Engineer) da máquina Thomson road steamer, fabricada em 1868. Em modelos posteriores, as tiras de borracha das rodas receberam uma proteção de corrente, como detalhada na ilustração, à direita, que mostra o esquema de uma das rodas revestida de borracha e sua seção transversal. A estrutura básica da roda era de ferro fundido, com dois discos de ferro forjado e barras de ferro em diagonal. A borracha era esticada quando colocada nas guias, permitindo melhor aderência. Depois era colocada uma armadura de corrente para impedir deslizamentos. Essa configuração sofreu variações depois.

Fotos Antigas: O primeio carro a vapor no Brasil

- Encontrei na internet a foto abaixo, mas o que mais me chamou a atenção foi a descrição e a história por trás da imagem. Tanto que me levou a procurar e encontrar um artigo maravilhoso sobre a vinda dessas máquinas para o nosso país.

- As informações sobre a foto foram inicialmente enviadas pelo sr. Paulo Grani para a página Antigamente em Curitiba, no Facebook. Lembrando que a imagem pode não ser exatamente do Thomson Road Steamer que circulou em Salvador.


O PRIMEIRO CARRO A VAPOR NO BRASIL

"Em maio de 1871, a cidade de Salvador, na Bahia, recebia o primeiro carro brasileiro que se movia, sem depender de tração humana ou animal. Foi importado da Europa pelo Doutor Francisco Antonio Pereira Rocha. O veículo era escocês, um "Thomson Road Steamer", o primeiro carro a usar rodas com borracha no Brasil. Rocha também tornou-se o primeiro motorista do Brasil."

- Na minha opinião particular esses vapores eram um misto de carro, caminhão, trator, máquina, e  ainda estes Thomson faziam papel de transporte de passageiros! Incrível a diversidade e pioneirismo de máquinas que tivemos no Brasil, mas que infelizmente não resistiram a nossa mentalidade de não preservação.

terça-feira, 30 de abril de 2019

Fotos Antigas: Revenda Deutz em Catanduva - SP


- Duas belíssimas imagens que retirei do arquivo da empresa Theodoro Becker Comercial Ltda, da cidade paulista de Catanduva. Hoje eles são posto autorizado Bosch Service mas na época das fotos eram revendedores dos tratores e motores diesel Deutz.

- Na primeira imagem acima o proprietário da empresa Theodoro Becker com seu filho e um dos tratores Deutz que eram oferecidos aos agricultores da região. Interessante a placa da empresa Otto Deutz Legítimo, Motores - Tratores - Serviços - Vendas.

- Na foto abaixo, os srs. Francisco, Theodoro e José Becker junto ao diretor da Deutz da Alemanha durante a doação do trator Deutz F2M com rodas de ferro para o recinto de exposições da cidade. Lembrando que esse ato já apareceu aqui no blog nessa outra postagem: www.tratoresantigos.blogspot.com/2016/09/fotos-antigas-o-deutz-de-catanduva-sp.html


- As fotos e informações retirei da página da empresa no Facebook www.facebook.com/theodorobeckercatanduva

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Fotos Antigas: Revenda Ford em Blumenau - SC

- Interessante registro da revenda Ford - Casa do Americano S/A em Blumenau - Santa Catarina, mostrando em primeiro plano o pequeno Fordson Dexta no show room da loja. Ainda podemos conferir os Ford F-350 atrás das autoridades, além dos quadros na parede.

- Achei muito curioso o desenho dos pneus traseiros do trator, diferentes para aquela época. A foto retirei da página Fundação Cultural de Blumenau, no Facebook.


Fotos Antigas: BTW Urtrak em Ouro Fino - MG

- Mais um belo registro de um trator de esteiras alemão feito no período do socialismo. Interessante ver como estas máquinas estiveram presentes nos quatro cantos do Brasil. O BTW Urtrak da foto pertencia ao Serviço de Água e Esgoto de Ouro Fino, Minas Gerais. A foto que pertence ao arquivo histórico da cidade, tem a seguinte descrição: "Aquisição de um trator KT 50".


terça-feira, 12 de março de 2019

Fotos Antigas: Tratores Ferguson no desfile

- Durante o desfile na cidade de Santo Antônio da Platina - PR, pelo menos quatro tratores Ferguson desfilavam com seus implementos. Pelas bandeiras do Brasil no primeiro, talvez fosse um desfile de 7 de Setembro.

- O primeiro trator com as faixas brancas nos pneus, arrastava uma ceifadeira. O segundo trator uma grade de discos. Interessante também o tipo de letra utilizado na escrita da "Casa Cisne". As fotos retirei da internet procurando por fotos antigas de Santo Antônio da Platina.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Fotos Antigas: Desfile de tratores em Ijuí - RS


- Belíssima foto registrando o desfile de tratores na cidade gaúcha de Ijuí. Logo em primeiro o polonês Ursus, o diferente da época por seu motor, funcionamento e estilo. Em seguida vinham Zetor Super 50, Fordson Major, Volvo e mais vários outros.

- A foto veio da página Museu Antropológico Diretor Pestana.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Feliz Natal e Próspero 2019

- Desejamos a todos os amigos, leitores do blog e entusiastas das antiguidades agrícolas um Natal com muito amor, alegria e união junto a seus familiares. E um 2019 repleto de tratores antigos por  todo nosso imenso Brasil!



terça-feira, 27 de novembro de 2018

Fotos Antigas: Tratores Malves para exportação

- Interessante coletânea de fotos que encontrei na página do Museu Ferroviário Regional de Bauru, onde podemos ver o processo de transporte ferroviário de tratores de rodas e esteiras da marca Malves, em exportação para a Bolívia. 

- Imaginem quantas paisagens diferentes esses vagões e tratores cruzaram até a Bolívia! Nas fotos do museu também podemos conferir as cargas de tratores Valmet, Massey além de carros e outras máquinas.

- Essas fotos foram feitas no pátio ferroviário de Bauru, que era chave de interligação da Noroeste do Brasil para a fronteira boliviana. Curioso a faixa da própria empresa Malves chamando atenção para a exportação.

- Os tratores de rodas Malves MD 920 eram equipados com motores Mercedes Om 352 porém por algum motivo não tiveram vendas expressivas no país comparado com o concorrente direto CBT 1105 e seu sucessor 2105 ambos também com motor Mercedes. Interessante destacar que os Malves exportados já estavam todos equipados com lâmina dianteira provavelmente montadas na própria fábrica a pedido do mercado da Bolívia.








terça-feira, 6 de novembro de 2018

Fotos Antigas: Tratores da Usina Malvina

- Através da dica do amigo e leitor do blog Vanderlei Lopes, encontrei a página Engenheiro Dolabela - MG, no Facebook, onde publicaram várias fotos da época da antiga usina Industrial Malvina S/A que infelizmente encerrou suas atividades no ano de 2001. A usina teve seus anos áureos na época do pró-álcool e o povoado de Engenheiro Dolabela, hoje distrito de Bocaiúva, nasceu dos trabalhadores e moradores da usina.

- Trator Massey Harris 44D Special em rara configuração diesel e High Clearance (alto) para o cultivo da cana. 

- John Deere 820 Diesel. Eram os maiores tratores da marca na época!

- Fordson Major.

- Caterpillar D6.

- Motoniveladora Caterpillar.


- Carregadeira de cana montada em trator que não consegui indentificar.




- Fotos da oficina. Reparem as carregadeiras de cana. Algumas desmontadas para conserto, assim como a máquina de esteira no canto da foto. Interessante também os tratores da marca MAN, que aparecem nas fotos acima.

- Neste foto um trator MAN com uma pá acoplada carregando o caminhão FNM.


- Nas duas últimas fotos, já mais recentes, a frota de tratores John Deere articulados da usina, trabalhando com scrapers.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Fotos Antigas: Renault em Ilhota - SC

- Raro registro e talvez primeira aparição aqui no blog de um trator Renault. A foto pertence ao arquivo pessoal de Nara Silva, e no trator está seu pai desfilando na comemoração do dia 7 de setembro em Ilhota - SC.

- Muito interessante a capota de época do trator. Outro detalhe curioso são os pneus dianteiros, já bem lisos, e que não parecem ser do tipo agrícola. Isso nos mostra que o trator era utilizado nas ruas e vias públicas asfaltadas, podendo ser o mesmo pertencente a prefeitura municipal.


quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Fotos Antigas: Chegada da Hanomag K55


- Interessante fotografia ilustrando a chegada de um trator de esteiras Hanomag modelo K55 ao nosso país. No registro vemos o exato momento em que a máquina parcialmente encaixotada era retirada do navio no porto do Rio de Janeiro.

- Pelas inscrições na caixa sabemos que o destino da Hanomag era Belo Horizonte. Provavelmente por ferrovia. Logo abaixo o catálogo da máquina apenas como ilustração. A imagem retirei da página Memória da Aviação no Brasil, no Facebook.

 Foto: Google - Internet

Fotos Antigas: Ferguson e os japoneses

- Bonito registro da família japonesa de trabalhadores da Fazenda Matão e o valente trator Ferguson no município mineiro de Extrema. A foto retirei da página no Facebook: Extrema Antigamente.


quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Fotos Antigas: Fordson arando em Pinhalão


- Linda, rara e antiga sequência de fotos de um trator Fordson arando terra no município paranaense de Pinhalão. Nesta primeira imagem o sr. Henrique Paulino de Souza (em pé) e o sr. Jair Mastrandrea (sentado no trator), o qual era comprador de suínos das IRFM - Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo e foi um grande investidor no início de Pinhalão.



- Nas duas fotografias acima o sr. Henrique Paulino de Souza e ajudante na primeira aração do Campo de Cooperação Muniz. Curioso notar que o trator tinha para-lamas, já bem amassados, detalhe não tão comum nestes modelos. As fotos e informações retirei da página Pinhalão - Paraná, no Facebook.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Fotos Antigas: Allis Chalmers Road Grader

- Bonita foto de um trator Allis Chalmers que na verdade já vinha de fábrica como uma moto niveladora. Eram modelos WD 45 conhecidos por patrol ou road grader. No trator da foto podemos conferir detalhes interessantes, como a ausência do escapamento, e a caixa de madeira a frente do radiador, que deveria ser para ferramentas. Pelos pneus e escrito na lataria, a máquina devia ser nova ainda. A felicidade da criança em posar para a fotografia em cima do trator é oque mais embeleza a foto!

- A imagem veio da página no Facebook - Antiguidades e Fotos de CP - Museu das Famílias, com fotos antigas de Cornélio Procópio - PR.


Fotos Antigas: Estradas do Brasil nos anos 40

- Interessante registro do acervo da família Urban, onde um trator de esteiras resgatava o belo automóvel, um Chevrolet Fleetline 1946. Não dá pra identificar a marca do trator, mas essa foto ilustra as aventuras de quem se aventurava pelo interior do país naquela época. 

- Na foto o sr. Anderson levava a família de Curitiba até Rio Negro no Paraná, e precisou chamar um trator para desatolar o carro. Naquela época estradas pavimentadas ou asfalto somente nas grandes capitais.




sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Fotos Antigas: Trator International rádio controlado

- Fugindo um pouco das nossas fotos antigas nacionais, mas valendo a curiosidade desses dois registros, posto hoje duas pequenas imagens que retirei da internet, ilustrando um inusitado projeto da marca IH lá nos anos 30/40: o International Harvester Radio Controlled Tractor.

- Se hoje em pleno ano de 2018 ainda é pouco comum tratores utilizando o sistema de piloto automático por GPS, imaginem naquela época um trator comandado por controle remoto. Curioso notar o tamanho do gerador acoplado ao motor do trator! Na segunda foto temos noção do que era o marketing para uma grande empresa no século passado!