quinta-feira, 2 de outubro de 2014

História: A mecanização Agrícola no Brasil - parte II


- O trecho a seguir eu retirei da revista RURALIDADE, nº 12 - Ano 03, de Dezembro de 1972. Ele dá continuidade a postagem sobre a Mecanização Agrícola no Brasil, e também nos dá um resumo e explica o que ocorreu com a produção nacional de tratores no final da década de 1960.

"Artigo sobre mecanização agrícola - OLHAI OS TRATORES DO CAMPO

No sul, uma acusação: as máquinas necessárias ao trigo e a soja tiram o emprego dos lavradores. Em São Paulo, uma afirmação: nunca houve tantos tratores como agora, e já se afirma que "nos próximos 10 anos o Brasil será um centro mundial de produção de tratores". No Norte, uma promessa: a colonização da Amazônia exige tratores.

Segundo os técnicos governamentais, a mecanização da agricultura no Brasil "já existe" e é, destacadamente, a primeira na América Latina, embora ainda seja insignificante em comparação com a dos países mais desenvolvidos. Há euforia entre os fabricantes: até o fim do ano, 30 mil tratores deverão ser vendidos.

Isto representa um contraste em relação ao que acontecia em 1969, quando um boletim da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores expressava desalento, dizendo que as vendas do ano foram muito inferiores às de 64. De lá para cá, no entanto, o Governo partiu para uma série de medidas de apoio ao setor - e começou o boom da mecanização agrícola brasileira.

Nascimento

A indústria de tratores foi criada por um decreto governamental, em dezembro de 1959. No ano seguinte, a Ford do Brasil lançava seus cinco primeiros tratores de quatro rodas, mais num sentido promocional. Em 1961 era a vez da Valmet iniciar sua produção, e em 62 a da Massey Ferguson. Em 1964, a Ford, a Fendt, a Deutz, a Valmet, a Companhia Brasileira de Tratores CBT e a Massey Ferguson produziram 12 mil unidades.

A partir de então, começaram a se sentir os efeitos de uma distorção da política brasileira sobre a mecanização agrícola.

Antes que a indústria fosse implantada, os tratores, é claro, tinham de ser importados, e o Governo Federal dava um forte subsídio, com uma taxa de câmbio favorecida, que numa determinada época chegou a alcançar 50% do valor real. Internamente, ofereciam-se financiamentos com uma taxa de juros de 7%, quando os juros comerciais eram da ordem de 15%. Além disso, o Brasil se aproveitava da economia de escala das fábricas européias e americanas.

Quando se implantou a indústria, todos os subsídios foram cortados, e os tratores tinham os preços prejudicados pela carga tributária. Mesmo assim, as vendas eram consideradas razoáveis, em termos de América Latina, pois a inflação chegara a 84% e o lavrador comprava o trator a uma taxa de juros de 11% ao ano, para ser pago em três anos, o que já equivalia a um alto subsídio.

Depois do movimento de 31 de março de 1964, os dirigentes da economia brasileira se mostraram sensíveis ao argumento, então universal, de que a mecanização agrícola provocava o desemprego no campo. Por isto, os juros de 11% ao ano foram aumentados para 24%, e, com a redução da inflação (65% em 1965, 40% em 66, e 38% em 67), a situação da indústria de tratores se agravou.

Houve um duplo crescimento no preço real, trazendo uma crise para as fábricas - e em 1967 a produção nacional descia para 6 mil unidades, o que era considerado "o fundo do tacho". Das seis empresas existentes no Brasil restaram apenas três: a Valmet, a CBT e a Massey Ferguson."

2 comentários:

Joao todescatto disse...

Muito bom artigo.

cRiPpLe_rOoStEr a.k.a. Kamikaze disse...

Sou um militarista convicto, mas acredito que na época da intervenção de 64 os militares deviam ter se concentrado mais na segurança nacional e se cercado de consultores realmente competentes para os assuntos de ordem econômica. Do jeito que fizeram, a estabilidade econômica não se prolongou por muito tempo depois do fim do regime, e a ameaça comunista está mais viva do que nunca.