quinta-feira, 2 de abril de 2015

História: O protótipo de trator F.N.M.

*** Texto e fotos retiratos da página www.lexicarbrasil.com.br com algumas alterações.

*** Nota deste blog: O resumo de uma longa história envolvendo até a Guerra Mundial com a fabricação de tratores no Brasil além de uma rara e curiosa foto do modelo que poderia ter sido o primeiro trator brasileiro pra mim foi novidade e surpresa, que graças ao belo site Lexicar, podemos compartilhar essas informações!

A F.N.M. - Fábrica Nacional de Motores foi fundada em 13 de junho de 1942, em plena 2ª Guerra Mundial, em Duque de Caxias (RJ), com o objetivo de fabricar motores de aviões, razão que se perdeu em 1945, com o final do conflito. Após alguns anos de indefinição, em 1949 a FNM iniciou a fabricação de caminhões pesados, tornando-se, assim, a primeira indústria automobilística do país.

- Os primeiros capítulos desta história se desenvolveram durante o Estado Novo, período ditatorial do primeiro governo de Getúlio Vargas. Tiveram início, mais precisamente, em outubro de 1938, através da portaria do Ministério da Viação e Obras Públicas nomeando o engenheiro aeronáutico Antônio Guedes Muniz para “estudar e propor os meios para o estabelecimento de uma fábrica de motores de avião” no país. Embora a decisão tenha sido rápida, já em 1940 sendo liberada a parcela de recursos destinada ao detalhamento do projeto, o início da Guerra retardou o processo, especialmente as negociações com a norte-americana Wright, empresa escolhida para fornecer a tecnologia dos motores aeronáuticos. A questão só foi equacionada em 1943, durante o encontro entre Vargas e o presidente dos EUA, quando foi barganhada a entrada do Brasil na Guerra, junto dos “Aliados”, em troca do apoio norte-americano ao reequipamento das Forças Armadas e à implantação da Companhia Siderúrgica Nacional e da FNM: no bojo da discussão estava o aval à fabricação local dos motores Wright, operação coincidentemente de interesse dos EUA, em função da vantagem de dispor de um fornecedor de motores aeronáuticos localizado em área segura, distante da Europa e Ásia conflagradas.

Um país agrário fabricando motores de aviões?

- A FNM nasceu, assim, sob a égide militar: o perímetro onde foi instalada foi considerado área de segurança nacional e a ela foi aplicado o Regulamento das Forças Armadas. Seus trabalhadores receberiam certificado de serviço militar, significando, portanto, serem operários “incorporados”; o abandono do emprego era considerado deserção. O projeto aprovado pelo governo era ambicioso, prevendo a instalação de três indústrias contíguas: a fábrica de motores aeronáuticos (FNM), a Fábrica Nacional de Tratores (cujos planos chegaram a ser preparados ainda antes do final da Guerra, porém não implantados) e a Fábrica Nacional de Aviões de Transporte. Além do papel simbólico que o empreendimento representava – uma indústria avançada num país atrasado tecnologicamente – as três unidades se pretendiam (bem de acordo com o discurso ideológico parafascista do primeiro governo Vargas) uma “escola de formação do trabalhador brasileiro” e um importante instrumento para a criação do “homem novo”.

- Dirigida pelo (já então Brigadeiro) Guedes Muniz, o empreendimento foi concebido para servir de modelo do que seria um projeto nacional de cidade Industrial autosustentada – a “Cidade dos Motores”. Nela, em torno do parque industrial (com as principais seções instaladas no subsolo, com ar condicionado e iluminação artificial, protegendo-as de remotos bombardeios) seriam construídas vilas habitacionais para “vinte a vinte e cinco mil habitantes“, com todos os serviços necessários à vida urbana (escola, assistência médica, comércio, igreja, clubes). Em complemento, um cinturão agropecuário, administrado pela própria empresa, supriria todas as necessidades alimentares dos trabalhadores e suas famílias. Conforme palavras do Brigadeiro, na “Cidade dos Motores” “não poderão viver a miséria, a fome, as doenças que a ciência sabe como destruir; (…) [ali] nenhum intermediário existe ou existirá entre a galinha e o consumidor, entre a vaca e a manteiga, entre o porco e a banha“.

- Em escala menor, o projeto foi efetivamente concretizado, inclusive a área rural anexa. Dada a incipiência da indústria metalmecânica brasileira da época, e conseqüentemente a baixa disponibilidade de mão-de-obra especializada, foi lenta a formação do quadro de pessoal. Os operários mais capacitados foram encontrados no Arsenal da Marinha e na Light, ambos no Rio de Janeiro; um contingente importante, de onde sairiam muitos mestres nas duas décadas seguintes, veio das Escolas Técnicas das capitais nordestinas; o restante teve que ser formado no dia-a-dia da prática. Em 1944, o Brigadeiro podia anunciar: “já possuímos hoje excelentes operadores, construindo peças da mais alta precisão, e que antes eram sapateiros, açougueiros ou empregados de balcão“. Foi neste quadro que, em 16 de abril daquele ano, dia do aniversário de Vargas, a FNM colocou em operação suas primeiras máquinas. Só em 1946, no entanto, finda a Guerra, a fábrica entrou em regime e completou seu primeiro motor, um Wright Whirlwind radial de nove cilindros e 450 cv.

- O fim da Guerra veio acompanhado do fim da ditadura de Vargas. Para a FNM foi um longo período de crise e indefinições, causado por uma conjunção de fatores. Com a desmobilização, grande quantidade de material bélico foi disponibilizada a preço simbólico pelos EUA. Perdida a (já por si reduzida) chance de comercialização externa dos seus motores aeronáuticos, a empresa constatou estar a FAB abarrotada de unidades novas em seu estoque, vendo assim desaparecer também o mercado interno. A luta foi igualmente dura na frente política; a base de apoio parlamentar do novo governo, assumidamente liberal, desencadeou campanha pelo encerramento da fábrica. Ainda no governo transitório, antes da posse do novo presidente, a empresa foi transformada em Sociedade Anônima, segundo o novo discurso oficial de reduzir o papel do Estado na economia; a produção de motores foi suspensa e os investimentos “sociais” quase eliminados, atingindo frontalmente o sonho da “Cidade dos Motores”. Em julho de 1946 a fábrica foi colocada à venda, sem encontrar compradores.

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FNM D-7300, o primeiro caminhão fabricado em série no Brasil.

- A pressão da oposição e da maioria da opinião pública, contudo, que viam na sobrevivência da FNM um fator de afirmação da soberania nacional, conseguiram mantê-la em operação, ainda que sem foco definido. Foi um triênio em que se tentou de tudo: da revisão de motores à produção de fusos para fiação, geladeiras e bicicletas, passando pela proposta de montagem de jipes Willys e caminhões Mack (neste caso, a empresa norte-americana exigiu o controle do capital da FNM) e o fornecimento de dez mil tratores para o Ministério da Agricultura; destes, que receberam o código MSTM, chegou a ser construído e testado um protótipo, nos EUA, segundo projeto da própria empresa.

Projetado pela FNM, o protótipo do trator MSTM foi uma das tentativas de sobrevivência da empresa no pós-guerra. Fonte da foto: Eduardo Nazareth Paiva

- Empresa pioneira, em paralelo com a produção de caminhões a FNM também fabricava peças para suprir o mercado de reposição, inclusive da concorrência (forneceu, dentre outras, para a Chevrolet, Ford e Willys); além disso, desempenhou importante papel na formação do parque nacional de autopeças, prestando assistência técnica (e até mesmo financeira) à nascente indústria nacional de componentes.

- Na primeira metade da década de 50 a empresa marcou presença em mais três iniciativas ligadas ao setor automotivo: em 1951, participou da construção do protótipo do Pinar, primeiro automóvel integralmente projetado no país; em 1954, mais uma vez ensaiou a fabricação de tratores, agora de origem Fiat (cerca de mil foram importados pela FNM, aos quais foram aplicados alguns componentes nacionais, mas a experiência se resumiu a isto); finalmente, em 1955, desenvolveu com a Massari o projeto do “papa-filas” – reboque com carroceria de ônibus, para 220 passageiros, acoplado a um cavalo-mecânico –,ingênua proposta de solução dos críticos problemas de transporte urbano das capitais brasileiras.

Tratores Fiat montados pela FNM entre 1954 e 1955. Fonte da foto: Eduardo Nazareth Paiva

- Para quem quiser continuar lendo toda a história da FNM segue a página da Lexicar Brasil -www.lexicarbrasil.com.br/fnm/ 

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo post. História é pra ser comentada e conhecida por todos.
deJuarez-MT