terça-feira, 7 de julho de 2020

Fotos Antigas: Agro Mecânica Simon Diesel

- Penápolis - SP, década de 60. Os irmãos Manoel Simon Nunes e Diogo Simon Nunes fundam a Agro Mecânica Simondiesel em 1963, a qual se encontra em atividade até os dias de hoje, no mesmo endereço, sob o comando do sr. Diogo. Entre 1963 e 1966 a empresa foi revendedora autorizada dos tratores Zetor e Deutz, além de serem oficina especializada dando manutenção para os demais tratores da época.

- As fotos pertencem ao arquivo pessoal do sr. Manoel Eduardo Simon, leitor do blog, e que está nas fotos dirigindo o trator Zetor quando tinha seis anos de idade!


 - Destaque para os Deutz DM-55 e DM-75 que deveriam ser "zeros".

 - DM-55 em frente a empresa. Acima dele o luminoso da Revenda de Tratores DEUTZ.




- Trator Deutz DM-55 com arado de quatro discos e a caminhonete pick-up da empresa. Reparem o quadro ou pintura de um trator CBT no prédio da revenda.

- Nesta foto não aparece o CBT pintado no prédio, somente uma grade de discos. 


 - Nesta fotografia o sr. Manoel com seis anos de idade no Zetor 50.


- Tratores Zetor Super 50 e ao fundo um máquina de esteiras coberta por uma lona. 

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Fotos Antigas: Exposição agrícola da ESALQ - 1965

- Três belas imagens já coloridas registrando uma exposição de máquinas agrícolas no ano de 1965.
Através da dica do leitor Bruno SC, encontrei as fotos originais na página do Facebook - Memória Paulista - Fotos Antigas de São Paulo e suas cidades. As fotografias são de autoria de Kiyoshi Hiratsuka. Por sorte as imagens originais estão em melhor qualidade e revelam detalhes surpreendentes das máquinas da época!

- A descrição não oficial das fotografias é uma exposição de máquinas agrícolas e mecanização na ESALQ - Escola de Agricultura Luiz de Queiroz em Piracicaba - SP, uma das universidades mais antigas de agricultura do nosso país.

- Micro tratores Pasco Lambretta MT-9. Na placa conseguimos ler: "Aprovados nos testes da Fazenda de Ipanema do Ministério da Agricultura. 08/03/65." 
- Ao fundo os tratores CBT 1020. 

- Nessa imagem um trator Ford 8-BR já na cor azul equipado com uma lâmina ou carregadeira frontal. Ao fundo os tratores Valmet, sendo esse equipado com uma motoniveladora. Também vemos um scraper e um trator Fendt nacional.

- Essa foto do Deutz "alto" para cultivo da cana-de-açúcar já apareceu aqui no blog, porém nessa nova foto aparecem os implementos FNI - Fábrica Nacional de Implementos ao fundo.


quarta-feira, 18 de março de 2020

Fotos Antigas: Chegada dos Ford 8-BR em Birigui-SP

- Belas fotos da chegada do tratores Ford modelo 8 BR na cidade paulista de Birigui no ano de 1962. Novidades para o início da década de 60, os 8-BR foram um dos primeiros tratores brasileiros, que com a vasta quantidade de revendedores Ford pelo nosso país, logo se popularizou por todas as propriedades rurais!

- As fotos vieram da página no Facebook - Historiografia de Birigui.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Fotos Antigas: Revenda Hanomag em Ceres - GO

- Belos e interessantes registros da Indústria Mecânica Santiago - Mecânica em Geral e Assistência Mecânica aos Tratores HANOMAG. As fotos retirei da página Ceres Goiás no Facebook.

- Na primeira imagem, provavelmente os proprietários da revenda, mecânicos, agricultores e populares junto ao trator Hanomag R24 no ano de 1958, levando a crer que o trator era recém chegado a loja.

- Nas outras fotos a fachada do prédio com os escritos Hanomag frontais e também laterais. Além do emblema central da marca e a placa pendurada. Alguns carros da época junto as pessoas, e nas últimas fotos o interior da oficina.





terça-feira, 26 de novembro de 2019

Histórias: Os Locomóveis em Selbach - RS

Os Locomóveis em Selbach
Oficina de Benedicto Haunss, na Rua 15 de Novembro.

* Relato de Inácio Haunss – UM FIAPO DE HISTÓRIA. Esta era a primeira oficina mecânica, ferraria e fundição de ferro em Selbach, de Benedickto Haunss. Não sei precisar a data certa desta foto, mas deve ser entre os anos de 1930 a 1940. O mais curioso é que esta residência antes de ser propriedade do meu avô, era a primeira capela católica de Selbach. O lado Sul era a própria capela e o lado Norte o alojamento dos padres que vinham a cavalo de Não-Me-Toque - RS. O local situa-se na esquina das ruas XV de Novembro e a Machado de Assis, aqui em Selbach.

Comboio indo a Cruz Alta, na imagem em que Frederico Schneider aparece com o seu locomóvel Lanz ao fundo, aparentando estar sendo puxada por cavalos. A estrada velha é o trecho que liga Selbach a Arroio Grande pela estrada de terra batida, que até 1979, fazia parte da RS 223. Em 1979 o traçado da rodovia foi mudado para não cruzar as zonas urbanas de Tapera, Selbach e Ibirubá. Nos mapas, antes de 1979, era pela Avenida 25 de Julho e pela estrada de terra que liga Selbach a Arroio Grande, que a rodovia RS 223 cruzava.

- Em 2010 eu me deparei com uma foto em um calendário que mostrava Frederico Schneider levando mercadorias para Cruz Alta com varias carroças por volta dos anos 1930, na estrada velha que hoje liga Selbach a Arroio Grande. Ao fundo percebi uma maquina estranha que parecia uma locomotiva. 

- Como não consegui identificar pedi ajuda para um especialista britânico David Collidge que administra o site Steam Scene especializado em maquinas a vapor. Ele identificou como sendo um locomóvel Lanz fabricado na Alemanha. Primeiramente vou explicar o que é um locomóvel: trata-se de um motor a vapor que pode servir como motor estacionário ou, com algumas adaptações até uma maquina de tração, tipo um trator. Os primeiros locomóveis vieram para o Brasil na região de Campinas - SP, onde o cultivo do café dependia de máquinas modernas. 

- Na segunda metade do Século XIX, o imigrante escocês William MacHardy, constituiria uma grande fundição importando maquinas britânicas fabricadas pela Clayton & Shuttleworth no interior de São Paulo. No Rio Grande do Sul o maior importador eram as Casas Bromberg de Porto Alegre com filial também em Passo Fundo que importavam os locomóveis alemães Lanz. 

- Sobre a Lanz, esta empresa foi fundada em 1859 por Heinrich Lanz na cidade de Mannheim, Alemanha. Em 1921 começou a produzir tratores a Diesel sendo o Lanz Bulldog o mais popular, até ser adquirida pela John Deere em 1956.

- Sobre o locomóvel de Frederico Schneider não há quase nenhuma informação. Por ser um Lanz, provavelmente foi adquirido em Passo Fundo na filial da Bromberg. O fato de ser uma máquina alemã pode não ter a ver com a emigração, pois simplesmente era o locomóvel mais fácil de se adquirir, a não ser é claro que ele tenha vindo com a família da Europa. O locomóvel, na época, era uma máquina muito versátil, poderia tocar uma bomba de água, uma trilhadeira, uma serraria, um gerador elétrico, um moinho ou tudo isso ao mesmo tempo, pois possuía um torque violento apesar da baixa velocidade.

- Uma foto tirada pelo senhor Fridolino Haunss mostra a antiga oficina do pai, Benedicto por volta de 1930, com partes de um locomóvel desmontado. Vê-se as rodas e o interior da caldeira. Não podemos afirmar que seja a mesma maquina, mas sim elas eram muito comuns até a Segunda Guerra Mundial. Com a abundância de lenha, por conta da mata nativa, manter um locomóvel era relativamente fácil e a oficina do senhor Benedicto oferecia toda a assistência técnica.

- Para esclarecer, locomóvel não é o mesmo que locomotiva, já que não anda sobre trilhos e não traciona vagões. São maquinas parecidas com funções diferentes. Com a chegada dos tratores a gasolina e da energia elétrica depois da Segunda Guerra Mundial os locomóveis foram desmontados e vendidos a fundições para serem derretidos, poucos restaram. Mas as fotos podem nos lembrar bem da era dos locomóveis.

 Página de uma antiga publicação publicitária de 1913, ali aparece a casa Bromberg, a fachada acima, no meio a direita o setor de utilidades domésticas e material elétrico e abaixo o setor de máquinas e ferramentas. Era um grande importador, com várias filiais no estado.

Acima, foto da oficina Haunss, do Jornal Correio do Povo, com anuncio dos locomóveis Lanz, fotos da casa Bromberg em que se vê alguns locomóveis a venda em 1913. 

- Texto e fotos retirados da página www.selbachprincesadoaltojacui.com.br, com algumas adaptações.

- Texto de autoria de Jorge Rogélson da Silva, e fotos de seu arquivo pessoal.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Restaurações: Oliver Super 99 - 1957


- A história da reforma deste trator se mistura um pouco aqui com o próprio blog e um pouco de aventura, acontecimentos, amizades e muito empenho para que o Oliver voltasse a roncar!

OLIVER SUPER 99 

- O amigo e leitor do blog Renan Pencinato havia me enviado fotos de um trator Oliver que era herança de sua família.  Na época eu conhecia pouco sobre os Oliver, mas vi que o trator era praticamente um CBT, na verdade, esse era o pai dos nossos tratores CBT! 


- Quase que na mesma época o amigo Adrianus Vosters já estava na direção do museu Ascomar em Maracaju, e procurava um CBT para o acervo. Eles já tinham no museu o ícone brasileiro o modelo 1105, mas mesmo assim ele procurava um CBT 2400 com motor Detroit americano. Eu já conhecia o pessoal da Ascomar, mas foi nessa época que tivemos um contato mais próximo, pois foi quando encontrei e comprei meu trator CBT 2400.

- Foi então que o Adrianus me procurou e contou que queria um trator desses com motor Detroit. Eu disse a ele que iria comprar o CBT, mas sabia de um outro, um mais puro sangue ainda! E contei sobre o Oliver Super 99 que haviam me oferecido, mas que estava no Rio de Janeiro!

- Após colocar comprador e vendedor em contato, foram questão de horas apenas para o negócio ser fechado. E coincidentemente quando estive pessoalmente em Maracaju conhecendo o museu Ascomar, o caminhão do Adrianus estava no Rio de Janeiro pra trazer o Oliver para o Mato Grosso do Sul.


- Quando o Oliver chegou em Maracaju, a surpresa maior chegou junto. Por telefone o Adrianus já sabia que o Oliver era único dono, porém não imaginava que o trator tivesse apenas 4.250 horas trabalhadas, e ele fosse receber junto com o trator uma nota fiscal datada de 1958, referente a primeira revisão do Super 99 !


- Esses detalhes fizeram com que o Adrianus optasse por uma restauração caprichada e nos mínimos detalhes. Tanto que muitas peças faróis, relógios, foram compradas novas em lojas especializadas nos Estados Unidos, sem contar o motor que por ter poucas horas não precisou ser retificado, porém recebeu uma revisão completa em seus componentes como: juntas novas, retentores, revisão nos bicos e injetora. Toda a parte elétrica e chicote foi importada nova dos EUA. Todo o restante foi muito trabalho com capricho em toda parte de funilaria e pintura. O trator foi completamente desmontado para receber uma pintura de alta qualidade.




- Os pneus traseiros foram mantidos os originais por estarem em bom estado e terem um desenho raro de se ver hoje em dia. Todas as partes do trator foram mantidas 100% originais, recebendo apenas pintura e peças de reposição novas. O motor GM Detroit Diesel de três cilindros e 99 cavalos de potência esbanja saúde e ronca como novo!

- Após o término da restauração o Adrianus já levou o Oliver para diversos encontros de carros antigos na região de Maracaju - MS, além de ter exposto o trator no próprio museu Ascomar em ocasiões de festas em Maracaju e também o levou em edições do Traktor Feste de Entre Rios - PR.



- Nesta última foto o CBT 1105 e o Oliver Super 99 em frente ao prédio do museu ASCOMAR de máquinas agrícolas antigas em Maracaju - MS.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Fotos Antigas: Fordson Major pá carregadeira

- Três belas fotos registrando o trator inglês Fordson Major com uma pá carregadeira "loader" que pertencia a Prefeitura Municipal de Mairinque - SP. Interessante a primeira imagem abaixo onde o trator devia ser praticamente novo, recém adquirido.


- Nestas outras duas fotos o Major já havia sofrido adaptações nas rodas dianteiras (as originais para uso agrícola não aguentavam o peso da pá cheia de terra e de todo conjunto), além de receber uma capota toldo para o tratorista e a inscrição P.M.M - Prefeitura Municipal de Mayrink.



- Todas essas imagens retirei da página Antiguidades Mayrink no Facebook. Nesta última foto de um desfile na cidade, aparece uma criança com um trator de pedal, hoje tão valorizado por colecionadores!


sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Fotos Antigas: David Brown em Tucunduva - RS


- Raro registro de um trator David Brown, provavelmente da década de 50 e com motor a gasolina, desfilando junto aos Valmet "vermelhos". 

- O trator pode ser um modelo 30D ou Cropmaster e os Valmet eram modelo 80id. A foto registra o desfile do Dia do Colono e Motoristas no município gaúcho de Tucunduva, lá na década de 70. 

- Na outra foto, talvez o mesmo trator DB em outro momento. As imagens retirei da página do Facebook - Tucunduva, Nossa História.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Fotos Antigas: Deutz DM 55 Canavieiro


- Interessante registro, já colorido, de um trator nacional Deutz, modelo DM 55 - C, enviado gentilmente pelo amigo e leitor do blog Rodolfo Podsiadlo.

- Montados pela empresa Motocana de Piracicaba-SP especificamente para o cultivo da cana de açúcar, eram tratores com vão livre do solo de quase um metro. Esta foto foi durante a exposição agrícola da Esalq em 1965.

- Lembrando que este tipo de trator já apareceu no blog nesta postagem: Trator Deutz DM 55.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Histórias: A caminhoneira de Não-Me-Toque - RS



- A senhora Nahyra Schwanke, de 86 anos, é considerada a mais antiga motorista de caminhão do Brasil. Na foto acima, ela ao volante do trator Hanomag junto a sua família.


- Um longo suspiro abafou o medo que se instalava em Nahyra Schwanke, então com 28 anos, ao segurar pela primeira vez o volante de um F-600. Sob os olhares desconfiados do proprietário da concessionária, que acabara de vender o caminhão a ela, e do funcionário destacado para acompanhá-la até a rodovia mais próxima, Nahyra demonstrou a mesma determinação com a qual dirigia o trator da família e as caminhonetes dos amigos agricultores no interior de Não-Me-Toque, no norte do Estado.

- Era março de 1959, como ela recorda. Ao lado da filha Saleti, nove anos, que havia escolhido o veículo na cor marfim, Nahyra estava prestes a iniciar o percurso de 200 quilômetros entre a sede da loja, em Encantado, no Vale do Taquari, e a casa dos pais. O roncar do motor servia de trilha sonora para o começo de uma nova vida: a partir daquele momento, a gaúcha nunca mais tiraria os olhos azuis da estrada.

- O caminho não tinha asfalto, era de terra e estreito. Fui devagarzinho e, em silêncio, limpando as lágrimas de medo e emoção. Andamos naquela estrada de terra e curvas. Era preciso chegar bem. E chegamos – lembra Nahyra.

- A única herdeira de um dono de salão de baile e de uma pequena comerciante apaixonou-se pela direção ainda na infância, quando o pai construiu um arado menor especialmente para ela trabalhar na roça. Aos 15, já conduzindo carroças, a jovem Nahyra casou-se. Foi mãe aos 20. No ano seguinte, separou-se. Com apoio da família, criou Saleti sozinha e enfrentou os olhares tortos de quem duvidava de sua força. Sem titubear, assumiu ao lado do pai, Rodolfo, as entregas de manteiga, ovos, galinhas e açúcar. Iam de carroça até Carazinho. Quando comprou o caminhão em vez da caminhonete que os pais haviam pedido, Nahyra não imaginava que um dia seria considerada a mais experiente caminhoneira do Brasil. Às vésperas de completar 60 anos como motorista profissional, ela ainda conduz caminhões com a mesma paixão que a levou a optar pelo veículo na loja de Encantado.

- Comecei por necessidade mesmo. Tinha que me virar porque era acostumada na roça. Meus pais sabiam que eu aceitei aquele serviço pela minha filha. Mas, em pouco tempo, me apaixonei pelo meu trabalho – conta.

- A carteira de motorista profissional, confeccionada dois meses depois de adquirir o veículo, é guardada por Nahyra como relíquia, uma espécie de diploma da caminhoneira. Nos primeiros meses com o F-600, ela circulou apenas na rota Não-Me-Toque/Carazinho/Passo Fundo, fazendo o transporte dos mantimentos vendidos pela família. As viagens mais longas tiveram início menos de um ano depois, quando passou a enfrentar sozinha a BR-386 até Porto Alegre:

- A perninha tremia de medo e cuidado. Nem sabia o que era asfalto. Os outros caminhoneiros diziam que tudo, um dia, seria como uma calçada. Comecei levando cargas de milho e de trigo até Porto Alegre. Fui aumentando os fretes para cá e para lá, até começar a sair do Estado.

- Como não podia ficar mais tempo com Saleti, Nahyra, em acordo com os pais, optou por colocar a filha num colégio interno particular, em Carazinho, comprometendo-se a custear os estudos com mais trabalho. Na tentativa de aumentar a própria renda, ela ampliou a distância das viagens.

- Quando achava que estava perdida na estrada, chorava muito porque estava só. Me acalmava olhando o mapa e pensava na importância daquele dinheiro para formar minha filha – recorda Nahyra, que estudou até o 3º ano do Ensino Fundamental.

- Na estreia rumo a Santa Catarina, ao Paraná e a São Paulo, um problema foi contornado com o ajuda do delegado da cidade. Como faltavam semanas para renovar o emplacamento do caminhão, a delegacia expediu uma carta de recomendação avisando às autoridades que o veículo de Nahyra teria o emplacamento renovado no retorno a Não-Me-Toque. Detalhe: na carta, o delegado informou que ela era viúva, porque ser desquitada poderia lhe causar ainda mais dor de cabeça entre os colegas de profissão.

- Enfrentei de tudo na estrada. A maioria dos caminhoneiros só se aproximava para saber coisas do caminhão. Mas havia outros que eram bobalhões. Perguntavam se eu queria um marido. Respondia dizendo que o meu casamento era este aqui (aponta para o caminhão estacionado em frente à casa da família) – diz Nahyra.

- Dona de uma memória sempre fresca, a caminhoneira lembra aos risos o período em que dirigiu um FeNeMê de marcha cruzada – como ela o identifica –, cuja cabine era tão quente que fazia o calor subir pelas costas. A marcha do veículo só engrenava no tempo exato de giro do motor. Por exigir força nas alavancas principal e de seleção, Nahyra era obrigada, na maior parte das vezes, a usar as duas mãos para as trocas simultâneas.

- Os braços acabavam se cruzando. Para carregar 12 toneladas, descia a Serra em segunda marcha, sem deixar embalar para não esquentar o veículo:

- Se pisasse duas vezes, olhava pelo retrovisor e via a fumaceira. Sempre andei devagar, mas com ele circulava quase parando. Se viesse um motorista apressado, dava um jeito de abrir e deixar passar. Talvez, por isso, nunca tenha batido e nunca ninguém bateu no meu caminhão.

- Mais confiante na direção, Nahyra passou a aceitar cargas vivas. Porcos, por exemplo, eram levados de Santa Rosa até São Paulo.

- Para não perder nenhum animal ao longo da viagem de mais 1,2 mil quilômetros, a caminhoneira fazia apenas uma parada em Lages (SC), onde aproveitava para banhar os bichos e descansar algumas horas, antes de seguir.

- Dormir, inclusive, tornou-se momento de luxo para ela. Ao longo de quase seis décadas, jamais ficou em hotéis na beira da estrada para economizar todos os centavos que podia.

- O sono era dentro da cabine. Por passar tanto tempo distante, fez casa no caminhão. Ostentava flores no painel e no vidro dianteiro e recheava as paredes com quadros religiosos. Devota de Nossa Senhora Aparecida, ela mandou construir na década de 1970 uma gruta em homenagem à santa nas margens da RS-422, na localidade de Vila Deodoro, em Venâncio Aires, como forma de agradecimento por jamais ter sofrido um acidente na rota considerada uma das mais perigosas entre as décadas de 1960 e 1970. Até hoje, a obra é cuidada pela própria comunidade – que reconhece Nahyra como a fundadora da gruta.

- Turista na casa da família em Não-Me-Toque, ela passava até cinco meses transportando cargas de cerveja entre São Paulo e as capitais nordestinas. Nesses longos períodos, se comunicava por cartas com a família. Apesar de percorrer todo o litoral brasileiro, a caminhoneira nunca colocou os pés no mar enquanto trabalhava. Não tinha tempo e, principalmente, temia ser julgada por estar sozinha.

- Quando voltava para rever a filha, se preparava psicologicamente para não demonstrar sinais de tristeza ou cansaço. Na frente de Saleti, mantinha o rosto firme enquanto a menina chorava pedindo para ficar com a mãe. Nahyra desabava em lágrimas depois de entrar no caminhão e seguir rumo a mais uma viagem. Saleti só viajava com a mãe nas férias escolares.

- A saudade era grande, mas a estrada me ensinou tudo e me abriu os olhos. Aprendi até a passar fome ao volante. Fiz muito amigos e tenho alguns até hoje. Quando não tinha dinheiro para o óleo, os postos me faziam fiado e, na volta, sempre pagava. Ganhei a confiança de todos por ser honesta – afirma, orgulhosa.

- Minha mãe estava à frente de seu tempo e é o meu maior exemplo. Ela sofreu muito, mas jamais se entregou. Se hoje tenho uma profissão, devo a ela – diz a hoje advogada Saleti, emocionada.

- De tanto rodar pelas estradas do Brasil, Nahyra tornou-se conhecida em boa parte do mundo. Foi homenageada pelas maiores fabricantes mundiais de caminhões, tornou-se tema de reportagem em jornais e canais de TV da Alemanha, França, Espanha, Noruega e foi entrevistada por Jô Soares, no final da década de 1990. Até os organizadores do Guinness Book procuraram a família para confirmar Nahyra como a caminhoneira mais velha em atividade no mundo. O recorde não teria sido reconhecido porque a equipe do Guinness não veio ao Brasil. Na cidade ou no Estado onde Nahyra nasceu, porém, ela jamais recebeu qualquer tipo de homenagem ou reconhecimento.

- Há dois anos, uma úlcera na perna direita de Nahyra distanciou a caminhoneira do volante. Mesmo com a ferida ainda aberta, ela realizou uma viagem até Rio Grande em 2015, acompanhada de outro caminhoneiro. Desde então, foi obrigada pelos médicos a abandonar longas distâncias. Ao sentir-se triste, pede para dirigir o caminhão extrapesado Mercedes-Benz Axor 2536, comprado há três anos para transportar uma carreta de três eixos. Volta e meia, quando a perna não está inchada, ela pega a carreta e dá umas voltas nas vias da cidade de 15 mil habitantes e na RS-142, só para matar a saudade da profissão. Temendo perder a carteira de habilitação, no momento mais crítico da úlcera, Nahyra negou-se a assinar a própria aposentadoria por invalidez. Tinha a certeza de que voltaria a viajar.

- Na semana passada, a convite da reportagem, voltou ao volante. Até o semblante de quem se recupera de uma longa jornada médica desapareceu, dando lugar ao olhar focado da estradeira. Em poucos minutos, abriu um largo sorriso de satisfação e seguiu pela rodovia, como se jamais tivesse parado de andar no veículo automático, que traz na placa o ano do nascimento da caminhoneira.

- Isso aqui é a minha vida. Amo este caminhão e vou voltar a andar longas distâncias. Deixa só eu me ajeitar – garantiu ao volante.

- Em casa, em meio aos gatos e cães que divide com Saleti, Nahyra não perdeu o hábito de dormir menos de seis horas diárias. Depois de tantos anos descansando em postos de gasolina, ela acostumou-se a fechar os olhos só depois das 2h da madrugada. Durante o dia, passa as horas olhando pela janela a grande paixão estacionada na rua. As marcas das viagens estão por toda parte, de fotos em cidades turísticas, como o Rio de Janeiro, a bibelôs para a família ou recebidos das concessionárias onde comprava os veículos. Uma placa de caminhão identificada com o próprio nome é o presente mais recente que ganhou de uma fábrica de borrachas para a qual fez transporte durante anos.

- Na estante da sala, Nahyra mantém uma coleção de miniaturas de carretas dirigidas por ela ao longo da vida. Sentada na cadeira favorita, costuma segurar aquele que lembra o caminhão mais recente. O suspiro vem profundo e os olhos azuis marejam. Cuidadosamente, ajeita o caminhãozinho sobre a perna esquerda, alisa a cabine e começa a fazer movimentos com ele para frente e para trás, imitando o andar do veículo. Em silêncio, fixa o olhar no deslizar do brinquedo. É como se voltasse às estradas empoeiradas e à montanha-russa de emoções vivida em milhares de quilômetros de solidão.